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quinta-feira, 19 de março de 2015

Enogastronomia - uma breve introdução ao conceito.

Enogastronomia é a arte de harmonizar os vinhos e os alimentos em uma mesma refeição, essa arte abre as portas para o fascinante mundo dos aromas, sabores e texturas.



A relação de amor entre o vinho e a comida é conhecida há muitos séculos e vem sendo aprimorada desde então. Pode-se dizer que a harmonização é o casamento perfeito entre eles, evitando que um sobressaia sobre o outro. No passado, tanto as opções gastronômicas, quanto as opções de vinhos eram restritas, e isso simplificava a escolha do vinho mais adequado para cada tipo de prato. 

Nos dias atuais, temos que lhe dar com vertentes muito mais amplas, tais como: pratos da culinária indiana, árabe, brasileira, chinesa, japonesa, tailandesa e tantos outros que já fazem parte do nosso dia a dia. Houve, também, uma grande ampliação na variedade de vinhos, regiões e países produtores. Nessas horas, devido ao grande número de possibilidades de harmonização, estar por dentro da cultura do vinho se faz bastante necessário.


Quando se pensa em fazer uma harmonização, existem alguns fatores que podem influenciá-la, como: - a receita proposta pelo chef; - as tradições e costumes locais; - o gosto pessoal; - o fator cultural; - a temperatura de serviço do vinho e do prato.Além disso, existem algumas regras e técnicas que podem ajudar na melhor compatibilização entre o alimento e a bebida.


O primeiro passo é decidir o que escolher antes: o vinho ou a comida, essa é sempre a grande questão. A resposta vai depender do local em que se estiver e em qual situação. Se estiver em um restaurante, o mais sensato é escolher primeiro o prato e então decidir pela melhor harmonização com o vinho. No entanto, se estiver em um jantar com amigos, ou em um restaurante conhecido por sua carta de vinhos, ou se souber que há na casa um sommelier para auxiliar, então, o melhor seria escolher o vinho e depois o prato para o casamento ideal. Com a escolha feita, seja do vinho ou do prato, deve-se atentar para algumas regras de harmonizações generalizadas, tais como:


Vinho Tinto – sempre vai melhor com carnes.
Tinto seco leve – carnes vermelhas fritas ou grelhadas, frango assado ou cozido, pizzas.

Tinto seco encorpado – carnes assadas e queijos brancos, como o brie e o camembert caem bem;

Tinto leve – massas com molhos leves.
Tinto encorpado – queijos duros, como o provolone.
Tinto seco – massas com molho de tomate, ou com molho de ervas ou ainda com molho condimentado, além de queijos amarelos, como o parmesão e gouda, e frios em geral são combinações perfeitas.
Vinho Branco – os vinhos brancos, são melhores quando harmonizados com peixes e frutos do mar, e quase nunca combinam com comidas muito temperadas e carnes vermelhas.
Vinho Rosé – ótimo com carnes magras grelhadas, frango assado, verduras gratinadas, massas italianas, charcutaria, entradas, tortilhas e omeletes.
Espumantes – são flexíveis e vão bem com diversos pratos, tais como: peixes defumados (salmão), carnes gordas assadas (leitão, porco), aves assadas (frango, pato).
Vinho do Porto – frutas secas, bolos, queijos azuis, sorvetes e sobremesas são boas combinações.


Jean Anthelme Brillat Savarin, o pai da gastronomia, disse: “Uma refeição sem vinho é como um dia sem sol”, porém, a escolha errada de um vinho para acompanhar um prato específico, pode tornar a experiência da refeição em um momento não tão prazeroso quanto deveria ser. 

Com o intuito de maximizar e potencializar tanto a expressão do prato, quanto a expressão do vinho, seguem algunas harmonizações retiradas do livro  “Wine with food” da autora Joanna Simon: 

Alcachofra: vinhos modernos gregos e húngaros, Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, Rioja branco jovem ou um Chardonnay vivo.
Antepasto: tintos ou brancos leves, italianos como o Dolcetto ou o Verdicchio; ou um rosè seco.

 Atum: Pinot Noir ou Merlot do Novo Mundo; ou um Chardonnay (branco) da Califórnia.

 Bacalhoada: brancos densos e bem secos, como o Chablis Premier Cru; ou tintos jovens como o Sancerre.
 Carpaccio: tintos refrescantes como o Dolcetto; tintos toscanos de qualidade como o Carignano; ou Champagne Rosè.
 Caviar: Champagne Brut Pas Dosage.
 Ceviche: Sauvignon Blanc do Chile ou da Nova Zelândia; ou Vinho Verde seco.
 Cheesecake: Moscatéis da Califórnia; ou Sauternes; ou Asti.
 Chocolate: Málaga; ou Porto; ou Banyuls – vinhos doces fortificados.
 Comida chinesa: Riesling Kabinett; ou Sauvignon Blanc da Nova Zelândia; ou Gewurztraminer.
 Comida thai: vinhos brancos do Vale do Loire; ou Sauvignon Blanc da Nova Zelândia.
 Embutidos: tintos jovens como Beaujolais; ou Chinon: ou Cabernet Sauvignon chileno; ou Pinot Noir suíço.
 Espaghette: com molhos de carne – tintos frutados como o Chianti Classico; à carbonara ou com molhos de creme – brancos refrescantes como o Pinot Grigio ou Collio.
 Filé Mignon: Cabernet Sauvignon de primeira linha; ou Syrah; ou Rhône; ou Nebbiolo; ou Sangiovese – tintos bem estruturados.
 Foie Gras: brancos doces concentrados como Sauternes; ou Jurançon; ou Recioto di Soave.
 Fondue de carne: Cabernet Sauvignon da Califórnia; ou de Coonawara (Austrália).
 Fondue de queijo: Chardonnay da Califórnia – brancos bem estruturados.
 Frango: muitos tipos de tintos e brancos, de um tinto Bergerac a um branco Saint-Véran. (Vai depender do tipo de preparo e da sofisticação do prato)
 Frutos do mar: Champagne; ou Sauvignon Blanc do Novo Mundo; ou Cardonnay.
 Kebab: tintos frutados como Tempranillo; ou Zinfandel; ou Douro; ou Alentejo.
 Lagosta: Chardonnays, especialmente os Borganhas; ou Champagne rosè.
 Lasanha: Rosso di Montalcino; ou Primitivo.
 Linguado: brancos da Borgonha; ou Graves; ou Arneis.
 Nhoque: brancos leves como o Pinot Grigio; ou tintos como o Valpolicella.
 Ostras: Chablis; ou Champagnes.
 Pizzas: tintos frutados e refrescantes como Chianti Rufino; ou brancos de meio corpo como Chardonnay da Califórnia.
 Sopas: Xerez seco.
 Sushis: Champagne; ou Riesling Kabinett alemão; ou Riesling australiano.
 Tapas: Xerez fino; ou Sancerre; ou rosè de Provence.
 Tempura: Sancerre; ou Chablis.
 Vitelo: brancos secos como os Borgonhas; ou Tokay Pinot Gris da Alsácia; ou grandes tintos como Pommard; ou Bordeaux.


Com relação à gastronomia brasileira, que tal harmonizar a feijoada com um vinho frisante ou um espumante rosé e esquecer da caipirinha? 




Quer tentar algo mais ousado? Harmonize pastel de carne com Champagne rosé; a “frescura” vai valer a pena! 

          

Tem morangos para a sobremesa? Harmonize com um Moscatel espumante nacional, vai ficar irresistível!



O importante, mesmo, é não se deixar limitar. O vinho, é uma questão de gosto. O melhor a fazer é seguir os seus instintos e tentar novas experiências. Usar o seu bom senso, moldar a harmonização ao seu gosto, sempre evoluindo aos poucos e no final se permitir novas descobertas.

Agora, é só aproveitar e se deliciar com os prazeres que a vida nos oferece.

Bon appétit!